quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

PROFILE - RAFAELA LOCATELLI


O trabalho de Rafaela Locatelli mistura os procedimentos de restauração de móveis, stencil, foto e lomografia, sticks próprios, colagem, desenho e pintura para dar vida a um universo que vem de uma herança deixada pela cultura pop às novas gerações: o desenho animado.
Rafaela cria assim um universo singular, seu, em que desdobra questões em torno a como estar no mundo, uma espécie de entre: das tensões da imaginação, do sujeito e da experiência. Procura armar algumas dúvidas éticas acerca da arte como uma responsabilidade com a vida.
A partir de 2007, iniciou também uma pequena produção de textos por dentro de uma idéia de literatura, quando participou de um curso de Formação de Escritores, com Carlos Henrique Schroeder. Em 2008 repete a dose com Manoel Ricardo de Lima.
Rafaela Locatelli (Videira – 1983), é graduada em Psicologia (UnC – Concórdia), cursou Desenho Industrial (UNIVALI – Balneário Camboriú), e desenvolve pesquisa entre psicanálise e arte. Participou de cursos com Fernando Lindote, Fabiana Wielewicki, Alena Marmo, Norberto Stori, entre outros.
Teve seus trabalhos exibidos em três edições da Mostra PRETEXTO, no Museu da República – Rio de Janeiro, UniversidArte XV - Rio de Janeiro, onde foi selecionada por Adolfo Montejo Navas e Luiz Camillo Osório com uma exposição individual no Centro Cultural Parque das Ruínas - RJ.

Manoel Ricardo de Lima

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Onde você nasceu?
Nasci em Videira, oeste de Santa Catarina.

Como e quando você descobriu que queria ser artista?
Na verdade aconteceu de repente. Eu estava no 3º ano de psicologia e apesar de ser apaixonada pela área, sentia falta de alguma coisa. Parecia que nada conseguia preencher meu vazio. Aí, em uma terapia da vida, decidi que iria comprar uma câmera lomográfica e comecei a minha jornada de volta ao meio artístico.

Conte um pouco da sua trajetória.
Minha mãe atuou muito tempo como artista plástica, nessa época eu era criança. Convivi no meio artístico até uns 10 anos. Ela dava aula de pintura e escultura pra crianças também, mas não me levava junto muitas vezes.
Mais tarde fiz Design – Projeto do Produto por dois anos, até que uma crise de hipotermia me pegou dentro da faculdade. Uma amiga minha ligou pro meu pai me buscar. Eu comecei a ter síndrome do pânico desde então e pavor de voltar pra lá. Ai mudei de curso e fui fazer Psicologia, minha formação acadêmica. Só que foi nessa segunda faculdade que descobri o quanto a arte fazia parte da minha vida, desde pequena.
A partir de 2006, comecei a fotografar – coisa que nunca tinha feito – depois voltei a desenhar e pintar e testar novas técnicas, que se resumem hoje, ao resultado de todo esse processo de crescimento, tanto artístico quanto pessoal.


Você teve uma educação artística formal ou aprendeu na prática?
Tive algumas aulas de pintura e escultura com a minha mãe, quando pequena (que confesso não lembrar de quase nada e o que me lembro são das brincadeiras).
Depois fiz 2 anos de Design. Acho que foi o mais perto que cheguei do formal.
A minha curiosidade me ensinou o resto.

Quais são as suas referências?
Klimt, Blaine Fontana, Michael Hussar, Fafi e Miss Van, meu tatuador Ramsés, Pedro Toledo, Gina Triplett, Hiroshi Yoshii, Gordon Wiebe, Julie Verhoeven, Joe Morse, Simone Legno, Rafael Mendoza, Lillycat, Matt Dineen Mateo, Satoshi Matsuzawa, Gary Baseman, Dan Seagrave, François Supiot, Carlos Pardo, Picasso, Andy Warhol, Roy Liechtenstein, Paul Moschell, Fabrini, Joshua Clay, Aaron Kraten, Apple Moshberry, Kathie Olivas, Brandt Peters, Jon di Venti, Audrey Kawasaki, Sas Christian, entre outros tantos bons artistas que completam meu mosaico de imagens.

Tente explicar o seu trabalho em palavras. Em que consiste a sua arte?
Ela consistem em dois eixos. O primeiro é mais teórico (psicológico), que reflete questões intrinsecas do ser humano, de relacionamento inter e intrapessoal e a responsabilidade deste sobre seus atos, tanto consigo, quanto com seus semelhantes e ambiente em que vive. O segundo é mais prático, que visa o resgate de valores – que vejo perdidos – pela técnica.
Esses dois eixos se misturam pra dar forma ao meu trabalho.

Que materiais você utiliza no seu trabalho?
Stencil, spray, têmperas acrílica e vinílica, látex, stickers próprios, foto e lomografia, madeiras, banners, cerâmicas, papel machê, isopor e lógico, muito betume.

Onde você cria?
Primeiro na minha cabeça, depois no lápis e pepel (num esboço muito tosco) e então no meu quarto/ateliê quebra-galho – como o chamou, meu amigo Manuel Ricardo de Lima.



Explique o “ritual” que você pratica antes de iniciar um trabalho. Como funciona o seu processo criativo?
Eu penso: “Preciso de alguma coisa nova”. Aí quebro a cabeça dias e não vem nada de bom. Depois dessa maré de azar, passo a prestar atenção em tudo e em todos. Todas as conversas, as propagandas, as mensagens e imagens. Realmente tudo o que eu me apropriar. Ai meus pilares fazem uma seleção do que fica e o trabalho começa a ser elaborado automaticamente.
Em que projetos você está trabalhando no momento e o que vêm pela frente?
Estou trabalhando num projeto de pesquisa sobre Arte e Psicanálise para um Mestrado e um novo conceito sobre Acreditar e Desacreditar.

Você tem algum horário em que prefere trabalhar?
Trabalho quando tenho tempo. Divido meus horários em muitas coisas: Marido, filho, casa, amiga, Office girl, clínica, pacientes e arte. Todas essas tarefas têm um lugar especial na minha vida. Organizo meus horários toda semana, mas muitas coisas acabam acontecendo no improviso, por causa dos contratempos.

É possível viver de arte no Brasil?
Não vou ser hirônica. Fiz psicologia exatamente por desacreditar nessa possibilidade e por não querer passar anos desenhando pro trabalho de outras pessoas, induzindo a compra de alguma coisa que talvez eu não acreditasse. Talvez eu tivesse sido imatura neste meu julgamento e hoje até vejo de outro modo, mas pra mim a psicologia é essencial no trabalho com arte, assim como com qualquer outro trabalho que exija a inteiração com outros seres humanos.
Acho possivel sim viver de arte no Brasil, tão possivel quanto viver de qualquer outra coisa. Você só tem que gostar e acreditar naquilo que faz.

O que você acha da cena “underground” brasileira? Você se considera parte dela?
Lógico que me considero. Apesar de ter exposto meus trabalhos em locais como Universidade Estácio de Sá, Museu da República e Parque das Ruínas (ambos no Rio de Janeiro), ainda acho que o que eu pinto não representa a cena Brasileira. Ainda vejo que temos muito caminho a percorrer como underground.
Ser underground, no meu ponto de vista não é algo pejorativo, mas algo que representa a mudança de paradigmas. A cena do nosso país é muito bairrista e mantém um conceito de uma geração que já foi. O underground aqui, tem esse trabalho. Trazer o conceito de uma geração que está aqui – entrando ainda, concordo – mas acima de tudo, de uma geração que quer mostras a todos, os seus produtos, fruto de tudo o que aprendeu com o mundo das outras gerações. E se entrar no circuito é mostrar a ele que temos uma relação intrinceca com a história da arte e uma obrigação para com ela, vamos mostrar que somos holísticos e que a arte é só a ponta do Iceberg e por baixo, existe muito mais doque só ela.

O que você estaria fazendo hoje se não fosse artista?
Sendo infeliz.

O que é ser NOMADE para você?
Ser nômade é aprender o que o mundo quer que aprendamos e depois esquecer tudo para poder aprender o que preciso para caminhar com minhas próprias pernas. É ter senso crítico e ser livre pra ter opinião própria e dizer se acredito nisso ou não.

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