quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

PROFILE - BAILON

Nascido em Santa Catarina, Brasil, Bailon é um artista contemporâneo que utiliza em sua arte diferentes técnicas como spray, tinta acrílica e à óleo, resultando em trabalhos figurativos dotados de expressão, críticas e que muitas vezes ironizam o cotidiano humano.
É formado em design e além de criar sua arte sobre telas, madeira e paredes, este artista também ilustra matérias para revistas, estampas para várias marcas e customiza objetos, como os populares sneakers (tênis).
Bailon já teve seus trabalhos expostos em galerias do Brasil e Estados Unidos.

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Onde você nasceu?
Em Bailneário Camboriú-SC

Como e quando você descobriu que queria ser artista?
Acho que foi quando me deram uma caneta e um papel pela primeira vez.

Você teve uma educação artística formal ou aprendeu na prática?
Na prática. Fiz faculdade de Design, mas a faculdade me formou designer e não artista. Eu acho que a minha arte, esteticamente falando, é resultado de todos esses anos desenhando e pintando e também do que aprendi trabalhando com ilustração.

Conte um pouco da sua trajetória.
Quando eu estava na escola eu já era aquele moleque que se divertia fazendo caricaturas do pessoal e deixando o caderno mais cheio de desenhos do que de matéria para estudar. Saindo da escola decidi fazer faculdade de Design Industrial, achando que seria interessante pra mim, trabalhar no futuro projetando, desenhando, criando produtos. Mas foi ainda durante a faculdade que comecei a trabalhar formalmente com ilustração em uma grande empresa de moda, criando ilustrações pra estampas. A partir daí foi que eu percebi que poderia viver fazendo o que eu sempre gostei. Depois resolvi sair da empresa em que trabalhava, montei o meu estúdio em casa e desde então divido meu trabalho entre minhas ilustrações comerciais e minha arte autoral. É muito divertido, hoje tenho bons clientes nos meus trabalhos comerciais e já tive meus trabalhos expostos no Brasil e USA. Não vejo a hora de saber o que mais vem pela frente (risos).

Quais são as suas referências?
Tudo que eu vivo, vejo, sinto e gosto influencia a minha arte. Arte urbana, cultura pop, esse sistema monstro em que as pessoas estão presas... Tudo isso afeta o meu trabalho. Falando em outros artistas que servem como referência e inspiração pra mim, a lista é grande: Klimt, Egon Schiele, Picasso, Basquiat, Andy Warhol, Doze Green, Dave Kinsey, David Choe, Herakut, Jeff Soto, Camille Rose Garcia, Shawn Barber, Ron English, Shepard Fairey, Blu, Os Gêmeos, Bruno 9li, Titi Freak, Stephan Doitschinoff, os outros NOMADES e muitos outros grandes artistas.

Tente explicar o seu trabalho em palavras. Em que consiste a sua arte?
Essa pergunta é complicada. Eu acho importante meu trabalho “conte” em que consiste a minha arte para quem vê, mesmo que conte algo diferente pra cada pessoa. O que eu quero dizer é que eu acho muito interessante quando uma pessoa olha para um quadro que eu pintei e diz algo sobre ele que eu nunca tinha imaginado. Mas eu posso dizer que minha arte acaba sendo uma ferramenta pra colocar pra fora coisas que eu sinto e muitas vezes eu só percebo o que eu estava sentindo depois de ver o trabalho pronto. É uma maneira muito louca de aprender sobre mim mesmo.

Que materiais você utiliza no seu trabalho?
Tinta acrílica, óleo, spray, marcadores, etc. Gosto de andar por diferentes técnicas e muitas vezes misturá-las também. A mistura de técnicas muitas vezes me surpreende pela riqueza que dá ao trabalho.

Onde você cria?
Em qualquer lugar. Costumo andar com um sketchbook na mão pra não deixar escapar nenhuma idéia que possa surgir... Mas o trabalho final, seja pintura ou ilustração, eu crio no meu “quarto/studio”, na minha casa em Itajaí-SC.

Explique o “ritual” que você pratica antes de iniciar um trabalho. Como funciona o seu processo criativo?
É meio desordenado, instintivo. Mesmo quando eu faço um sketch o resultado final ainda é uma surpresa, porque eu acabo criando novos detalhes e elementos durante o processo. Geralmente o processo envolve uma idéia dentro de um tema com o qual eu quero trabalhar, uns sketches e música durante a criação. Estou começando a criar em séries de um tempo pra cá. Penso em um tema pra abordar na série, faço os sketches e crio pinturas e ilustrações baseado nisso.

Em que projetos você está trabalhando no momento e o que vêm pela frente?
No momento estou criando estampas para algumas marcas, criando uma linha de “produtos ilustrados” para uma empresa e trabalhando numa nova série chamada “Vida, Natureza e Paixão”. Pela frente vem uma exposição coletiva com o pessoal do Coletivo NOMADE, um projeto de Live Painting, uma série de camisetas e muito provavelmente coisas que eu nem imagino ainda que estejam por vir.

Você tem algum horário em que prefere trabalhar?
Em qualquer horário em que eu esteja me sentindo bem, inspirado, confiante... Mas durante a noite é mais tranqüilo, não tem tantas distrações como telefone, gente falando na volta, e-mails, etc.

É possível viver de arte no Brasil?
Eu ainda acredito que sim, senão não estaria dando murro em ponta de faca (risos). Mas acho que não dá pra depender só daqui. Pode viver e trabalhar no Brasil, mas tem que fazer a sua arte ultrapassar as fronteiras, ganhar admiradores lá fora também.


O que você acha da cena “underground” brasileira? Você se considera parte dela?
A cena underground brasileira é muito rica, muito mesmo. A gente tem muitos artistas talentosos vindo do graffiti, da tattoo, da ilustração e por aí vai. Tudo que é novo e interessante nasce no underground. O underground alimenta o mainstream e isso não é de hoje. Me considero parte e acho importante pra quem mais está envolvido na cena se preocupar mais em continuar no caminho certo, em manter o foco e não esbarrar nas pequenas besteiras, discussões e problemas que rolam no meio artístico aqui no Brasil.

O que você estaria fazendo hoje se não fosse artista?
O que eu estaria fazendo eu não sei, mas com certeza não seria tão feliz como sou hoje.

O que é ser NOMADE para você?
É simplesmente não ficar parado. Não ficar imóvel diante do que acontece a sua volta e sim continuar andando, crescendo tanto como artista, como ser humano.

PROFILE - RAFAELA LOCATELLI


O trabalho de Rafaela Locatelli mistura os procedimentos de restauração de móveis, stencil, foto e lomografia, sticks próprios, colagem, desenho e pintura para dar vida a um universo que vem de uma herança deixada pela cultura pop às novas gerações: o desenho animado.
Rafaela cria assim um universo singular, seu, em que desdobra questões em torno a como estar no mundo, uma espécie de entre: das tensões da imaginação, do sujeito e da experiência. Procura armar algumas dúvidas éticas acerca da arte como uma responsabilidade com a vida.
A partir de 2007, iniciou também uma pequena produção de textos por dentro de uma idéia de literatura, quando participou de um curso de Formação de Escritores, com Carlos Henrique Schroeder. Em 2008 repete a dose com Manoel Ricardo de Lima.
Rafaela Locatelli (Videira – 1983), é graduada em Psicologia (UnC – Concórdia), cursou Desenho Industrial (UNIVALI – Balneário Camboriú), e desenvolve pesquisa entre psicanálise e arte. Participou de cursos com Fernando Lindote, Fabiana Wielewicki, Alena Marmo, Norberto Stori, entre outros.
Teve seus trabalhos exibidos em três edições da Mostra PRETEXTO, no Museu da República – Rio de Janeiro, UniversidArte XV - Rio de Janeiro, onde foi selecionada por Adolfo Montejo Navas e Luiz Camillo Osório com uma exposição individual no Centro Cultural Parque das Ruínas - RJ.

Manoel Ricardo de Lima

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Onde você nasceu?
Nasci em Videira, oeste de Santa Catarina.

Como e quando você descobriu que queria ser artista?
Na verdade aconteceu de repente. Eu estava no 3º ano de psicologia e apesar de ser apaixonada pela área, sentia falta de alguma coisa. Parecia que nada conseguia preencher meu vazio. Aí, em uma terapia da vida, decidi que iria comprar uma câmera lomográfica e comecei a minha jornada de volta ao meio artístico.

Conte um pouco da sua trajetória.
Minha mãe atuou muito tempo como artista plástica, nessa época eu era criança. Convivi no meio artístico até uns 10 anos. Ela dava aula de pintura e escultura pra crianças também, mas não me levava junto muitas vezes.
Mais tarde fiz Design – Projeto do Produto por dois anos, até que uma crise de hipotermia me pegou dentro da faculdade. Uma amiga minha ligou pro meu pai me buscar. Eu comecei a ter síndrome do pânico desde então e pavor de voltar pra lá. Ai mudei de curso e fui fazer Psicologia, minha formação acadêmica. Só que foi nessa segunda faculdade que descobri o quanto a arte fazia parte da minha vida, desde pequena.
A partir de 2006, comecei a fotografar – coisa que nunca tinha feito – depois voltei a desenhar e pintar e testar novas técnicas, que se resumem hoje, ao resultado de todo esse processo de crescimento, tanto artístico quanto pessoal.


Você teve uma educação artística formal ou aprendeu na prática?
Tive algumas aulas de pintura e escultura com a minha mãe, quando pequena (que confesso não lembrar de quase nada e o que me lembro são das brincadeiras).
Depois fiz 2 anos de Design. Acho que foi o mais perto que cheguei do formal.
A minha curiosidade me ensinou o resto.

Quais são as suas referências?
Klimt, Blaine Fontana, Michael Hussar, Fafi e Miss Van, meu tatuador Ramsés, Pedro Toledo, Gina Triplett, Hiroshi Yoshii, Gordon Wiebe, Julie Verhoeven, Joe Morse, Simone Legno, Rafael Mendoza, Lillycat, Matt Dineen Mateo, Satoshi Matsuzawa, Gary Baseman, Dan Seagrave, François Supiot, Carlos Pardo, Picasso, Andy Warhol, Roy Liechtenstein, Paul Moschell, Fabrini, Joshua Clay, Aaron Kraten, Apple Moshberry, Kathie Olivas, Brandt Peters, Jon di Venti, Audrey Kawasaki, Sas Christian, entre outros tantos bons artistas que completam meu mosaico de imagens.

Tente explicar o seu trabalho em palavras. Em que consiste a sua arte?
Ela consistem em dois eixos. O primeiro é mais teórico (psicológico), que reflete questões intrinsecas do ser humano, de relacionamento inter e intrapessoal e a responsabilidade deste sobre seus atos, tanto consigo, quanto com seus semelhantes e ambiente em que vive. O segundo é mais prático, que visa o resgate de valores – que vejo perdidos – pela técnica.
Esses dois eixos se misturam pra dar forma ao meu trabalho.

Que materiais você utiliza no seu trabalho?
Stencil, spray, têmperas acrílica e vinílica, látex, stickers próprios, foto e lomografia, madeiras, banners, cerâmicas, papel machê, isopor e lógico, muito betume.

Onde você cria?
Primeiro na minha cabeça, depois no lápis e pepel (num esboço muito tosco) e então no meu quarto/ateliê quebra-galho – como o chamou, meu amigo Manuel Ricardo de Lima.



Explique o “ritual” que você pratica antes de iniciar um trabalho. Como funciona o seu processo criativo?
Eu penso: “Preciso de alguma coisa nova”. Aí quebro a cabeça dias e não vem nada de bom. Depois dessa maré de azar, passo a prestar atenção em tudo e em todos. Todas as conversas, as propagandas, as mensagens e imagens. Realmente tudo o que eu me apropriar. Ai meus pilares fazem uma seleção do que fica e o trabalho começa a ser elaborado automaticamente.
Em que projetos você está trabalhando no momento e o que vêm pela frente?
Estou trabalhando num projeto de pesquisa sobre Arte e Psicanálise para um Mestrado e um novo conceito sobre Acreditar e Desacreditar.

Você tem algum horário em que prefere trabalhar?
Trabalho quando tenho tempo. Divido meus horários em muitas coisas: Marido, filho, casa, amiga, Office girl, clínica, pacientes e arte. Todas essas tarefas têm um lugar especial na minha vida. Organizo meus horários toda semana, mas muitas coisas acabam acontecendo no improviso, por causa dos contratempos.

É possível viver de arte no Brasil?
Não vou ser hirônica. Fiz psicologia exatamente por desacreditar nessa possibilidade e por não querer passar anos desenhando pro trabalho de outras pessoas, induzindo a compra de alguma coisa que talvez eu não acreditasse. Talvez eu tivesse sido imatura neste meu julgamento e hoje até vejo de outro modo, mas pra mim a psicologia é essencial no trabalho com arte, assim como com qualquer outro trabalho que exija a inteiração com outros seres humanos.
Acho possivel sim viver de arte no Brasil, tão possivel quanto viver de qualquer outra coisa. Você só tem que gostar e acreditar naquilo que faz.

O que você acha da cena “underground” brasileira? Você se considera parte dela?
Lógico que me considero. Apesar de ter exposto meus trabalhos em locais como Universidade Estácio de Sá, Museu da República e Parque das Ruínas (ambos no Rio de Janeiro), ainda acho que o que eu pinto não representa a cena Brasileira. Ainda vejo que temos muito caminho a percorrer como underground.
Ser underground, no meu ponto de vista não é algo pejorativo, mas algo que representa a mudança de paradigmas. A cena do nosso país é muito bairrista e mantém um conceito de uma geração que já foi. O underground aqui, tem esse trabalho. Trazer o conceito de uma geração que está aqui – entrando ainda, concordo – mas acima de tudo, de uma geração que quer mostras a todos, os seus produtos, fruto de tudo o que aprendeu com o mundo das outras gerações. E se entrar no circuito é mostrar a ele que temos uma relação intrinceca com a história da arte e uma obrigação para com ela, vamos mostrar que somos holísticos e que a arte é só a ponta do Iceberg e por baixo, existe muito mais doque só ela.

O que você estaria fazendo hoje se não fosse artista?
Sendo infeliz.

O que é ser NOMADE para você?
Ser nômade é aprender o que o mundo quer que aprendamos e depois esquecer tudo para poder aprender o que preciso para caminhar com minhas próprias pernas. É ter senso crítico e ser livre pra ter opinião própria e dizer se acredito nisso ou não.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

COLETIVO NOMADE


O conceito do Coletivo Nômade nasceu de uma nova geração de artistas com trabalhos distintos, idéias semelhantes e um objetivo único: a conscientização do ser humano perante suas responsabilidades para com o futuro – e quando falamos de futuro, abrangemos questões sociais e ambientais.
Assim como as gerações passadas, esta cresceu cercada por influências que moldaram sua forma de pensar e expressar a arte, resgatando um propósito que parece ter sido esquecido. Quando o cenário artístico tem um discurso abrangente, mas demonstra preocupar-se apenas com o conceito e crítica, excluindo a massa, o Coletivo Nômade pretende resgatar as diferentes classes trazendo uma realidade que pertence a todos e nós afetará futuramente se nada fizermos. Tentar abranger o máximo de pessoas possíveis, para nós significa acreditar na humanidade.
Este trabalho coletivo possui diversas influências, desde a cultura “pop”, a música, a moda, o acesso à informação, passando pela arte urbana, os desenhos animados, as histórias em quadrinhos e, porque não, as tatuagens.
O mundo de hoje, diferente do de anos e anos atrás, possibilita que haja um intercâmbio cultural de caráter global e permite que se discuta com maior liberdade assuntos que antes eram considerados tabus.
É levando tudo isso em conta que os artistas dessa geração, vêm através deste projeto, falar sobre um novo momento pelo qual o mundo e a arte estão passando. É fruto da produção contemporânea, feita de maneira independente – de certa forma underground – e tem a finalidade de levar ao público novos conceitos, formados pela pluralidade de informações e influências, remetendo a um sentimento único, tanto em relação à técnica, quanto ao tema.
Através do uso de diferentes mídias e mesclando técnicas, este coletivo de artistas contemporâneos quer mostrar sua visão de mundo, utilizando-se da pintura, ilustração, fotografia, vídeo e qualquer outra mídia possível para fazer valer a sua arte. Ultrapassar barreiras, quebrar tabus, transpor limites...